PAPA FRANCISCO

05-07-2013 11:07

Visita do papa Francisco pode unir católicos contra "avanço evangélico"

Posted: 03 Jul 2013 05:21 PM PDT

Especialistas dizem que Igreja católica enfrenta desafios por causa do relativismo e o sucesso do pentecostalismo. 
Este mês ocorrerá a aguardada visita do papa Francisco ao Brasil. Ele participará da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Entre os especialistas há o consenso que a Igreja Católica do Brasil (e de toda a América Latina) enfrenta sérios desafios que estão resultando na constante perda de fieis. 
As lideranças católicas precisam tentar oferecer respostas às necessidades do povo, como o combate à pobreza e o debate sobre questões sociais que surgiram com força na política, como a legalização do aborto e do casamento gay. Um grande desafio é o catolicismo deixar de ser uma religião “declarativa” e possa voltar a ver um compromisso real de seus fiéis com o que ela ensina. 
O padre Pedro Gilberto Gomes, professor na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul, explica: “Quando você é apenas declarativo, você pode mudar de religião de acordo com o momento em que está vivendo, em busca de respostas mais rápidas e concretas”. 
Numa análise teológica, o professor Francisco Borba, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, credita o sucesso dos evangélicos pentecostais porque conseguiram criar uma “ponte entre o místico e o material” de um modo mais direto e concreto que a Igreja Católica. “Para a Igreja Católica, o que muda a sociedade é o comportamento dos cristãos, a mudança não vem de Deus”, explica. 
Ele diz que no Brasil ainda é forte na Igreja Católica o chamado “cristianismo popular”. Embora tenha como figura principal Jesus Cristo, essa variação do cristianismo é marcada pelo desconhecimento dos ensinamentos do magistério romano e uma série de sincretismos, uma vez que no Brasil há forte presença de sincretismo e da influência das religiões afro-brasileiras. 
Sendo assim, os especialistas percebem que a maioria da população, apesar de muitas vezes se denominar católica, não tem uma vida ativa dentro da Igreja. 
Segundo o último censo feito pelo IBGE em 2010, 64,6% da população se considerava católica, contra 73,6% em 2000. O Brasil ainda é o país que abriga o maior número de católicos do mundo. Enquanto isso, os evangélicos passaram de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010. Contudo, esse rápido declínio é visto também no México, segundo país que mais abriga católicos, onde a queda do número de fieis foi de 88% para 83% da população. Lá os evangélicos também cresceram, mas não na mesma velocidade. 
A visita do papa Francisco, que é argentino e conhece bem a realidade dos católicos sul-americanos, é “agenda” para tentar fazer com que a Jornada Mundial da Juventude una os católicos do país. 
“Existe um novo modo de relacionamento (com os fiéis) que o papa Francisco está tocando e com isso ele poderá realmente trazer um pouco mais de ânimo para os católicos no Brasil, que ultimamente estavam com a autoestima baixa, em muito por causa dos grandes escândalos.”, acredita o professor Gomes. 
A visita papal também deve reforçar os preceitos do documento final da Conferência de Aparecida, realizada em 2007. Na ocasião, um dos redatores foi o cardeal Jorge Mario Bergoglio, o atual papa. O texto tem uma forte mensagem evangelizadora, prega que a Igreja vá até o povo, em vez de esperar que o povo vá à Igreja. Só assim seria possível enfrentar as grandes crises da Igreja, incluindo o avanço dos evangélicos e os escândalos de abusos sexuais. 

MT Agora com informações Último Segundo
      

Igrejas evangélicas disputam imigrantes haitianos em Rondônia

Posted: 03 Jul 2013 01:06 PM PDT

Num templo da Assembleia de Deus no centro de Porto Velho, ao menos cem fiéis cantam em coro, ouvem pregações e oram em conjunto. Ao longo das três horas de cerimônia, não se ouve uma única palavra em português. Todos ali são haitianos. 
Atraídos por empregos nas hidrelétricas do rio Madeira, desde 2011 ao menos 3 mil imigrantes do país caribenho se mudaram para a capital de Rondônia, segundo o governo local. E no Estado com o maior percentual de evangélicos do país (33,8%, ante 22,2% da média brasileira), algumas igrejas travam uma disputa por suas "almas". 
A Assembleia de Deus foi a primeira na cidade a erguer um templo só para o grupo. A maioria dos fiéis passou a frequentá-la após se mudar para Porto Velho, seduzida pelos cultos em creole, a língua mais falada do Haiti. 
Quem conduz as cerimônias é o haitiano Pierrelus Pierre. Antes de migrar para o Brasil, ele já era pastor da Assembleia de Deus na República Dominicana. "Vim para o Brasil para trabalhar, só que quando cheguei aqui a história mudou", ele diz à BBC Brasil. 
Poucas semanas após mudar-se para Porto Velho, Pierre conheceu o líder da Assembleia de Deus na cidade, o pastor Joel Holden. O pastor o convidou, então, a assumir a pregação a seus compatriotas na igreja que viria a ser erguida para o grupo. 
A estratégia surtiu efeito: desde a inauguração do edifício, há dois anos, os cultos estão sempre cheios. 
"Já fui a igrejas brasileiras que são muito legais, muito bacanas. Mas aqui na igreja haitiana a gente se sente em casa", diz o operário Gildrin Denis, de 25 anos. 
Denis afirma que, no Haiti, frequentava uma igreja pentecostal que não existe no Brasil e que se converteu à Assembleia de Deus "para manter o padrão". "Tenho dezenas e dezenas de amigos haitianos em Porto Velho e todos eu vejo aqui na igreja, fizemos amizade aqui."
Supervisor da Congregação Haitiana da Assembleia de Deus na cidade, o pastor brasileiro Evanildo Ferreira da Silva diz que a igreja já converteu ao menos cem imigrantes. Ao serem batizados, eles recebem uma carteirinha com foto e dados pessoais.
Silva acompanha os cultos em silêncio, sentado no palco. Ele só se levanta para as músicas, que ocupam boa parte da cerimônia e são comandadas por baterista, baixista e guitarrista haitianos. 
Um assistente, também brasileiro, é encarregado de coletar o dízimo. O pastor diz, no entanto, que os haitianos "estão com dificuldade de fazer essa parte aí". "Estamos tentando adaptá-los a essa cultura nossa, de contribuição, até porque a igreja precisa pagar luz, telefone, ar-condicionado." 
Paralelamente, afirma Silva, há um trabalho para fazê-los abandonar as tradições do vodu, culto levado ao Haiti por africanos escravizados. "Eles chegam com uma cultura africana, de candomblé, mas na igreja são doutrinados a abandonar essas práticas." 

Devagarinho
Segundo a base de dados da CIA, órgão de inteligência dos EUA, embora 80% dos haitianos sejam católicos e 16%, evangélicos, metade da população do país pratica o vodu. 
Silva diz que a igreja tem lidado com as diferenças culturais com "muita prudência, devagarinho, senão de repente eles podem até espalhar." 
Muitos, de fato, já buscam outros ares. Dois fiéis que assistiam ao culto da Assembleia de Deus num domingo de junho carregavam o livro Nada a Perder, de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus. 
Eles haviam ganhado a obra na semana anterior ao participar, com centenas de haitianos, de um culto da Universal em Porto Velho. Só naquele dia, a igreja de Edir Macedo converteu seis haitianos. 
Nem todos, porém, pretendem voltar. Um dos primeiros haitianos a se mudar para Rondônia, o tradutor Jean Onal, de 38 anos, diz que aceitou o convite para o culto da Universal por curiosidade, mas que o tom da cerimônia o desagradou. "Tinha mais de cinco pessoas possuídas, achei muito exagerado.'' 
Onal, que diz ser adventista, afirma que as igrejas em Porto Velho têm duas estratégias para atrair os imigrantes: enviam-lhes convites impressos ou pedem a haitianos que já as frequentam que levem conhecidos aos cultos. 
Ele calcula que ao menos cinco denominações evangélicas na cidade tenham haitianos como crentes. Já a Igreja Católica raramente atrai estrangeiros às suas missas, embora sua pastoral do migrante lecione português a grupos de imigrantes. 
Coordenadora das atividades da pastoral, a irmã Orila Travessini diz que a igreja não faz proselitismo com as turmas. Ela nota, porém, que entre os haitianos "há uma grande carência do sobrenatural, de algo que preencha isso". 
Para Onal, a religiosidade de seus compatriotas reflete as condições sociais adversas que enfrentam. "O Haiti tem muita pobreza, muito desemprego, então as pessoas têm bastante tempo para orar a Deus." 
E quando emigram, diz, algumas práticas pregadas por religiões evangélicas - como a proibição ao consumo de álcool - facilitam que encontrem emprego e se adaptem ao novo país, segundo ele. 
"Um país que não é pobre sempre tem uma festa no fim de semana para as pessoas gastarem dinheiro. Os haitianos, não: eles se preocupam mais com trabalho e com a igreja, é difícil encontrar alguém com cigarro na mão ou bebendo." 
Na Igreja Adventista do Sétimo Dia de Porto Velho, que conta com cerca de 30 fiéis haitianos, a relação entre religião e prosperidade é ainda mais direta. A igreja dá aos haitianos recém-chegados cestas básicas, paga seus aluguéis e os encaminha para entrevistas de emprego com empresários fiéis da igreja. 
"Todos os haitianos conosco estão trabalhando, têm celular, bicicleta. O nível financeiro deles têm aumentado", diz o pastor Paulo Praxedes. "O objetivo deles não é serem sustentados ou mantidos por outros, é serem sustentados pelo próprio trabalho deles". 
Até agosto, a igreja também deve inaugurar uma unidade só para os haitianos. Por ora, o grupo frequenta os cultos regulares da igreja junto ao dos fiéis brasileiros e, numa sala aos fundos, celebra uma cerimônia em creole. A igreja também pretende formar, em breve, um pastor haitiano. 
Para Marco Teixeira, professor do departamento de história da Universidade Federal de Rondônia (Unir), que coordena um grupo de estudo sobre os haitianos em Porto Velho, as igrejas evangélicas da cidade "viram nos haitianos um alvo". 
Embora avalie como positivo o papel que elas exercem ao recebê-los, dando-lhes segurança, ele diz que as igrejas promovem uma "despersonalização" dos imigrantes. 
"Não é um trabalho feito gratuita e desinteressadamente. Há um interesse de conversão em marcha. É uma disputa, um verdadeiro mercado de almas, que pode ser ampliado para um mercado de dízimos." 
O pastor Adventista do Sétimo Dia Paulo Praxedes nega, porém, que sua igreja participe de qualquer disputa. "Não somos uma concorrência, nosso interesse é ajudá-los. Muitas vezes esses haitianos chegam ao nosso centro cultural e nem sabemos de que religião eles são". 
O pastor Evanildo Silva, da Assembleia de Deus, tampouco endossa a visão de que as igrejas estão competindo pelos imigrantes. Mas afirma que, mesmo que outras denominações venham a assediar os fiéis da Assembleia de Deus, o grupo não vai diminuir. 
"Tem muitos haitianos aqui, então tem para todo mundo."

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